Eu
deixei algo pra você na porta da geladeira.
Nossa rota de fuga.
Você não precisa aceitar.
Só não pense tanto assim.
Eu deixei algo meu em você, enquanto você dormia.
Talvez um parasita.
Lembra quando acreditávamos que a tua pele era uma extensão da minha?
Acho que estávamos certos, afinal.
Não foi tão difícil como imaginávamos.
Só precisei me sentir assim.
Só de você.
Eu ainda não entendo porque você prefere ovos mal cozidos.
Mas os faço.
É tão mais fácil acreditar em algo quando você diz.
Sua voz é como uma mão mecânica daqueles brinquedos de parque.
Um tratado assinado por países do extremo oeste de alguma nação abandonada.
E eu nem sei ao certo o que você é.
Mas suspeito que seja eu.
Em alguma parte do seu corpo tão bucólico.
Eu me escondo.
Mas não consigo ficar esse tempo inteiro de olhos fechados.
E brinco com argolas e anéis de planetas que ainda nem tem nome.
Quem sabe um dia possamos batiza-los?
Eu daria o teu nome.
Como você se chama mesmo?
Não, não diz agora.
Você pode esperar quarenta anos?
Não demora tanto assim.
O tempo é só uma convenção de antropófagos catequisados.
Que ainda não se acostumaram com o vegetarismo do século 21.
Não assusta tanto quando a gente conhece de perto.
É só um menino assustado que adora comer os lábios.
Como eu.
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