31.5.13

Vermiticina

Minha televisão acorda e jorra sangue em minha garganta.
E só estou ali, me observando dizer.
O que eu disse mesmo ?
O que eu fiz mesmo ?
Não importa.
Campos de extermínio, cercas e barricadas que me escondem em bases militares.
Particulares.
Sigo, ligo e rogo.
Preço, prece, pressa.
Corto o pé que a moça do açougue me traz bem cedo.
Na cozinha, sacos de areia, jarros de leite e vermiticina.
Que fechem-se às cortinas.
Meu sofá adormece e agoniza às costas e os murmúrios que os confidencio.
Cortejo a mulher-abutre que se despeja no meu tapete de carmuça.
Seus dentes, vermelhos, rogam às minhas lembranças putrefatas.
É longe, quente, seco e hostil lá fora.
Alces correm e furam o sinal.
Lavo a TV e a seco, seco, no varal.
O que mais eu posso ser? Não vê que a TV já se pronunciou?
Coube a mim o que foi escrito.
Meu destino perene.
Aceitarei sem me contrapor, em nenhum ponto, os seus desejos.
São verdades, escorrendo em meus dedos.
No canto da boca do Labrador magro.
Tigelas inteiras de doenças cultivadas na gaveta da geladeira.
Retiro-me, à seco, do varal.
Às suas antenas foram cravadas nos meus pulsos.
Que me prometem copos de limonada toda final de tarde.
Guitarras coloridas e antidepressivos em papel de bala.
Ajeito sua batina preta de plástico.
E os resguardo em seu altar de lâmpadas fluorescentes.

- 23/11/2012


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