Agarro a tua mão, e o afasto com a tocha de luz laranja que
carrego na outra.
Sua coroa parece assustada.
Mas você soa condescendente.
“Porque você precisa ir logo agora? “
As palavras são despejadas como cereal de chocolate em leite desnatado.
“Porque sim” , sopinha de letras mal resolvidas.
Argh!
Porque você precisa ir agora?
Não vê que é isso que ele quer ? Que você suba em suas costas escamosas e ceda
à seus voos rasantes em riachos violetas ?
Violenta-me esse teu compromisso inadiável com esse lagarto inócuo e
desinteressante.
Tão exibido!
Ainda há tanto pra fazer, escorregadeiras pra descer ( eu seguro a sua mão. As
duas! ), balanços pra sacudir, campainhas pra tocar e sair correndo, mas você
só pensa em querer subir nas costas desse teu lagarto de estimação.
Preciso que você saiba o que me ocorre quando ele te engole.
Mas você deve saber, né ?
Fico aqui, clamando pelos seus voos exibidos e suas visitas desavisadas.
Só o suporto por ele ser teu suporte.
Que isso fique bem claro!
E se esse for o preço pra ter-te em minhas vistas, circular sóis na calçada
antes da chuva vir luas na varanda e anéis de saturno nos teus dedos. Que seja!
Que ele venha então. Com esse corpo branco, listrado e escamoso, esse barulho irritante
e esses olhos claros.
Já chegou !?
Argh! Tão exibido!
- 03/11/2012
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