23.2.13

Subserviência

Quando me perguntam, costumo dizer que não sou poeta, letrista ou cartunista.
Fico mais contente com a alcunha de transdutor de ideias. 
Pode parecer um pouco presunçoso de minha parte, mas acredito que colocar-me a frente das ideias como uma espécie de criador delas me soa bem mais fátuo. 
Sou subserviência.
As ideias me ocorrem, numa espécie de outra frequência. 
Numa linguagem, que posso afirma
r não é da prole desse plano.
E no instante fugaz que elas se mostram pra mim tento trazer o que elas dizem pra cá. 
O que determina o que vão se tornar são elas mesmo e a minha plebe habilidade de enxerga-las à fim de transcrevê-las.
Quando consigo vê-las com uma breve nitidez, as desenho. 
Quando só consigo escutar os seus sons, harmonizo-as. 
Quando junto aos sons enxergo outra coisa, componho.
Quando mostram-se pra mim em grafias, escrevo. 
Se o encontro for curto tiro dali uma poesia, mas se as ideias, em sua infidavel benevolência, me concederem mais alguns minutos, arranco um conto ou uma prosa-poética.
Não sou poeta, letrista ou escritor, tampouco sou cartunista ou compositor. 
Essas alcunhas, deixo pra quem cria ideias. 
O meu servil papel é de apenas traduzi-las.

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