30.6.13

Quadris

Fica mais um pouco.
É certo que a vista da tua pele queima os meus olhos.
E dança sobre os meus sentidos como uma bailarina cega.
Estuprando-os um a um até o cansaço.
Mas fica mais um pouco.
CD e vinis velhos nos aguardam a noite inteira.
Que brindemos à voz de Yorke, então.
Tão soturna quanto a melancolia dos teus quadris.
Que ditam a profundidade de minha consciência.
Com ou sem teorias.
Isso pouco importa.
Os vendo aqui, parecem não ter preços que os paguem.
Cheios de riscos e suposições feitos a caneta BIC.
Desenhados a giz de cera e tinta guache.
Dispersos em acordes dissonantes.
Bemóis e sustenidos.
Riffs pesados.
Inundam-me os ouvidos.
Desnudam-me os instintos.
Os poucos que ainda resistem.
E insistem em dançar conosco à celebre convenção do nada.
Não há nenhuma surpresa, e nenhuma certeza reservada à nós dois.
A ninguém.
Só a harmonia orgástica do som dos teus dedos deslizando sobre essas teclas gastas.
Que me mantem acordado.
Com a fé em pó desses acordos.
Você não se pertence.
É filha da palavra que precisa ser ditada.
A todo custo.
Você é drenada por parágrafos.
Sentenças.
Bolsas de metáforas chegam a todo instante.
Na estante, pleonasmos.
Mas não é suficiente.
Você é boa demais nisso.
Talvez eu também seja.
Que triste destino esse o nosso.
Crias de nossos inventos.
Moinhos e dragões adestrados que vivem na iminência de um golpe de estado.
Mas você os mantém tão coesos que até parecem seus.
Céus!
Como os teus quadris, os teus ombros e dedos.
São tão lindos!
Absurdamente.
Apetitosos.
Une versos e prosas autossuficientes.
Há um tempo atrás você nem existia.
E hoje passeia tão à vontade no chão de minhas ideias velhas cheirando a cigarro e xarope pra tosse.
Talvez por você não se pertencer eu pareça ser tão seu.
O que diabos estou dizendo, afinal?
No final você consegue escrever o teu nome sem sentir culpada?
Eu não.
Você é boa demais nisso.
Talvez eu não seja tanto assim.
À si consegue deixar-se.
Sem se partir.
E os partos costumam ser letais nessa idade.




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