O barulho do rádio encima da pia, goteja nos meus medos.
Soturnos.
Saturnos inteiros, que me arrastam pra minha própria órbita.
Despressurizada.
Meus olhos fundos, meus lábios em carne-viva.
Minhas mãos molhadas, e o barulho das teclas do computador da cozinha,
martelando sob a casa de brinquedos velhos.
O carrossel que se esconde sobre a cortina escura.
O lago de águas negras que corre por trás de minha casa,
Juro que escuto sua maré bater na minha porta às duas da manhã me cobrando uma xícara de açúcar.
Que eu sempre esqueço.
Toda noite é assim.
E eu me cubro com a razão que você sempre tem.
Mas de umas noites pra cá tá tão quente não é mesmo ?
Tão quente que o berço que balança de ponta cabeça no quarto de hóspedes já nem está mais lá.
E o jardineiro que tem as mãos enterradas em seu dorso, já não me pede mais café no meio da manhã.
Talvez já tenha percebido que as teorias cheiram a naftalina e papel velho.
Que filozoofias baratas e tantos outros ratos boiam na banheira.
Bebericando seus próprios Baygons.
Balanço em minha cadeira de rodas, e gargalho o som de minhas estimas podres e dos pães de sal daquele velho que não sabe mais passar o troco certo.
Balanço em minha cadeira de rodas e apago a luz do meu abajur.
Radiotativo.
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